
Debate realizado pela Semas, na Semana da Água, reuniu organizações com projetos voltados para a convivência no semiárido
A perspectiva da segurança hídrica e o impacto na vida das mulheres no Semiárido pautou o debate virtual desta quinta-feira (25). Coordenado por Inamara Mélo, secretária executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade, o encontro contou com a participação de Rivaneide Almeida (Centro Sabiá), Ita Porto (Diaconia), Adriana Nascimento (Fetape) e Apolônia Gomes (Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú). O debate trouxe experiências de tecnologias sociais desenvolvidas em áreas rurais com foco tanto no reuso da água quanto no saneamento para o melhoramento de sistemas agroflorestais, apresentando os desafios das mulheres na gestão da água no semiárido.
De acordo com Inanara, o recorte de gênero é fundamental de ser pautado dentro da Semana da Água, pois as mulheres têm uma forte ligação com este recurso natural e estas janelas de debate são importantes espaços de construção. “O tema é de grande necessidade, trata de um dos objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU para os próximos anos e as mulheres ainda são pouco ouvidas na construção de políticas públicas”, ressaltou Inamara.
As organizações Centro Sabiá e Diaconia apresentaram projetos que desenvolvem técnicas de filtragens para irrigação de agroflorestas, além de equipamentos biocombustores, que utilizam os resíduos sólidos produzidos pelos animas. Esse material é transformado em biomassa para acender o fogo na preparação de alimentos. Os projetos incluem três territórios: Agreste, Sertão do Araripe e Sertão do Pajeú.
A iniciativa da ONG Centro Sabiá pretende inicialmente alcançar 510 famílias agricultoras e, de acordo com Rivaneide Almeida, cerca de 300 já estão vivenciando o processo da reutilização de ‘águas cinzas’ (do banho, da escovação, das roupas e louças). “O projeto é formado por 80% de mulheres agricultoras. Dialoga e é executado por mulheres que estão presentes nestes agrossistemas, que também podem ser chamados de pequenas propriedades e área de produção e vida. As águas são reutilizadas e filtradas por um sistema simples de irrigação por gotejo e vão para uma área de produção de alimentos”, destacou.
A Diaconia apresentou um projeto de saneamento rural a partir do tratamento de resíduos sólidos, a experiência de um biodigestor sertanejo. Segundo dados do IBGE, trazidos pela organização, 75% das residências rurais não possuem sistema de tratamento ou de destinação adequados de esgoto que, em geral, é despejado, em fossas rudimentares, em valas, ou diretamente no solo, ou em córregos, rios ou lagoas.
“Esta tecnologia do biodigestor quer enfrentar essa realidade do saneamento rural. O projeto inclui fossa biodigestor, banheiros e tratamento dos resíduos. A tecnologia trata o resíduo animal com todo o impacto que ele tem de emissão de gases de efeito estufa e de contaminação das fontes de água. A gente alimenta o biodigestor com esterco animal e ele produz tanto o biogás, que é utilizado na cozinha, quanto o biofertilizante, utilizado na produção de alimentos”, explicou Ita Porto.
De acordo com a pesquisadora, o recurso otimiza o tempo das mulheres na produção dos alimentos – porque são elas que carregam a lenha e a água para cozinhar – e melhoram também sua qualidade de vida.
Já Apolônia Gomes destacou a importância de investir em capacitação e formação para a convivência no semiárido com a gestão dos recursos hídricos. “É importante uma assessória técnica específica para a mulher garantir sua autonomia e a gestão da água. Aqui no Pajeú, tem o trabalho forte das organizações para minimizar os impactos da falta de distribuição de água e a sobrecarga de trabalho. É importante entender que é preciso plantar para termos água e é preciso proteger os rios, suas nascentes. Aqui, tem o grupo de mulheres guardiãs de três nascentes e esse conhecimento precisa ser passado para outras mulheres”, afirmou Apolônia.
Para Adriana Nascimento, da Fetape, este debate não é apenas das mulheres do campo ou das florestas, mas de toda sociedade. “É um desafio grande, de nós mulheres, enquanto organizações, instituições, fazer com que as políticas públicas cheguem na vida das mulheres da sociedade em geral, porque a nossa luta é por direitos”, afirmou.